Mural Avena

Revisão literária - Rigidez arterial: Etiologia e prevenção

    165530612162a9f78920823-1655306121-3x2-md.jpg

    RIGIDEZ ARTERIAL: ETIOLOGIA e PREVENÇÃO. 

    INTRODUÇÃO:

    Trata-se de um processo de alteração no endotélio vascular, especialmente das túnicas média e íntima, com infiltração de monócitos e células da musculatura lisa. O aumento da rigidez arterial relaciona-se com mudanças no equilíbrio entre elastina e colágeno. O enrijecimento arterial é consequência de interações e adaptações dinâmicas entre elementos celulares e a matriz extracelular [1]. A rigidez pode ser induzida por alterações hemodinâmicas e fatores extrínsecos, bem como hormônios e citoquinas inflamatórias, especialmente aquelas capazes de induzir proteínas de aderência como ICAM-1 (INTERCELULLAR ADHESION MOLECULE 1) e VCAM (VASCULAR CELLULAR ADHESION MOLECULE). O mecanismo de infiltração celular na túnica íntima tem papel marcante para a evolução do processo de aumento na rigidez arterial. Considerando que a elevação dos níveis de LDL oxidada (LDLox) – ou modificada – é o principal fator de estimulação de ICAM-1 e VCAM, reduzir seus níveis é imprescindível para evitar o aumento dessa rigidez. Um aspecto igualmente importante para o surgimento da rigidez arterial é o descompasso entre a produção e degradação de elastina e colágeno [1]. A perda ou desorganização da elastina e sua substituição por colágeno contribuem claramente para a rigidez da parede. O desequilíbrio desse sistema pode ser causado por citoquinas próinflamatórias, as quais podem aumentar a liberação de metaloproteinases. Por outro lado, a hipertensão arterial pode levar à superprodução de colágeno e/ou redução de elastina, contribuindo para a diminuição da distensibilidade vascular, como mostrado na figura abaixo:
     
     
     
     

    EPIDEMIOLOGIA e ETIOLOGIA da RIGIDEZ ARTERIAL:

    O fenômeno da rigidez arterial é caracterizado por diminuição da complacência das artérias calibrosas. Está ligado ao envelhecimento, sendo mais frequente em portadores de doenças cardiovasculares, diabetes, doença renal crônica e obesidade. Segundo o FRAMINGHAM HEART STUDY, a incidência de rigidez arterial até 50 anos de idade é menor (5 a 10%) – indicado por aumento na velocidade da onda de pulso VOP – (≥12m/seg). A partir dessa faixa etária, ocorre um aumento significativo. Com 70 anos a incidência pode chegar a 60%. Há que se considerar, entretanto, que o aumento da VOP com a idade não é uniforme. Segundo Hickson & cols [2], o enrijecimento vascular na aorta abdominal apresenta um acréscimo de 0,9m/seg, por década. Assim, a medida da VOP é, sem dúvida, um indicador importante e um sentinela clínico para monitorar a evolução da rigidez arterial.

     

    ESTRESSE, CATECOLAMINAS e RIGIDEZ ARTERIAL:

    Há algum tempo foi demonstrado que o estresse emocional, especialmente o capítulo que descreve o aumento na liberação dos hormônios de reação “fuga/luta”, ou seja, as catecolaminas, está intrinsecamente ligado ao aumento do ESTRESSE OXIDATIVO. Conforme a descrição dos mecanismos de catabolismo da epinefrina, enzimas como MAO (monoamino oxidase) e COMT (catecol o-metil transferase) são capazes de aumentar o índice dos radicais livres do oxigênio, tanto por via direta (MAO → superóxido) como via indireta (COMT → Homocisteína → superóxido e hidroxila). É preciso lembrar que o aumento do estresse oxidativo é um precursor da elevação dos indicadores inflamatórios (citoquinas). Agindo sobre o endotélio, esses componentes pró-inflamatórios podem acionar mecanismos de infiltração celular, especialmente na presença de “shear stress”, resistência ao rolamento no fluxo sanguíneo. Já foi bem demonstrado que a infiltração celular (monócitos) no endotélio está intimamente ligada ao aumento das proteínas de adesão ICAM-1 e VCAM, ambas diretamente instigadas pelo fator de transcrição nuclear NFkB, coordenador da resposta inflamatória. Este, por sua vez, sofre estimulação pelo estresse oxidativo, LDL-oxidada e pelos AGEs (advanced glycated end products). Pesquisa [3] mostra que o aumento da rigidez arterial está associado com a elevação da atividade nervosa simpática (catecolaminas) e suas consequências: “shear stress”, microlesões endoteliais e exacerbação do processo inflamatório, conforme já demonstrado por Zubcevic J & cols [4]. É de se ressaltar, ainda, que as doenças crônicas mais ligadas ao aumento da VOP (diabetes, hipertensão e obesidade) têm forte etiologia inflamatória subjacente.
     

    DIABETES e RIGIDEZ VASCULAR:

    Estudos anteriores sobre a relação entre diabetes e rigidez arterial foram, em sua 3 maioria, transversais. Alguns poucos estudos longitudinais classificaram a relação em uma única direção. Se a associação entre rigidez arterial e diabetes é bidirecional permanece obscuro até o momento. Num estudo publicado em 2020, Mengyi Zheng & cols [5] encontraram uma surpreendente relação bidirecional, onde se constatou que a progressão da rigidez arterial, avaliada pela VOP, causou aumento proporcional da glicose sanguínea em jejum. Foram incluídos 14.159 participantes do estudo Kailuan, com avaliação da VOP braquialtornozelo (VOPbt) de 2010 a 2015, não portadores de diabetes, doenças cardiovasculares/cerebrovasculares e doença renal crônica, no início do estudo. A glicose em jejum e VOPbt foram medidos repetidamente no início e durante o acompanhamento. A análise de grupos foi utilizada para verificar a possível relação causal temporal entre VOPbt e glicose em jejum, entre 8.956 participantes com avaliação repetida duas vezes em 2010 a 2017. A idade média basal da população estudada foi de 48,3 ± 12,0 anos. Durante o acompanhamento (3,72 anos) foram diagnosticados 979 novos casos de diabetes. Após ajuste para possíveis fatores de interferência, a taxa de risco de diabetes em pacientes com aumento de VOP foi de 1,59 (grupo com rigidez arterial limítrofe) e 2,11 (grupo com rigidez arterial elevada). Os autores consideram que os resultados da pesquisa sugerem que o aumento da rigidez arterial pode preceder a elevação da glicose sanguínea em jejum, em vez de ao contrário. Diferente de Mengyi Zheng, estudos anteriores sobre este tópico são limitados por amostras relativamente pequenas (<2685) e poucos novos diagnósticos de pacientes com diabetes (<100). Conforme os dados atualizados, o aumento da glicose em jejum parece ser mais consequência do que causa da rigidez arterial.
     
     

    DOENÇA RENAL CRÔNICA: CAUSA OU CONSEQUÊNCIA DE RIGIDEZ ARTERIAL.

    Considerando por outro aspecto, a relação do diabetes com aumento de fluidos extravasculares, devemos analisar a possibilidade de indução da rigidez arterial por esse mecanismo. O excesso de líquido extracelular é uma característica em pacientes com doença renal crônica (DRC), causando edema de membros inferiores, hipertensão arterial (HA), congestão pulmonar e insuficiência cardíaca [6]. Além disso, o excesso de fluido extracelular é pronunciado em pacientes diabéticos. Considerando a relação causal entre hiperglicemia e hipertonicidade, a progressão da nefropatia diabética está associada ao aumento no líquido extracelular [7]. Verificou-se que, especificamente em pacientes diabéticos com DRC, o desequilíbrio no sistema RENINA-ANGIOTENSINAALDOSTERONA [8] e o aumento da permeabilidade capilar causado por AGEs [9] aumentam o risco de sobrecarga de fluidos. A redução da função renal leva à retenção de sódio e água, resultando em sobrecarga de líquidos (SL). Sabe-se que a SL aumenta o volume circulante, o retorno venoso e as pressões de enchimento, resultando em estresse sistólico e diastólico do miocárdio. Além disso, a rigidez arterial acompanha a SL e contribui proporcionalmente para a progressão da DRC [9,10]. De acordo com as evidências, doença cardiovascular (DCV) é a principal causa de mortalidade na DRC [11,12], sendo a SL um dos principais determinantes [13,14].
     

    LIPOPROTEÍNA A e RIGIDEZ ARTERIAL [22]:

    A hipótese de contribuição da Lp(a) para o enrijecimento arterial foi investigada em idosos japoneses com diabetes tipo 2, e foi relatada uma associação independente de seus níveis com a VOP [23]. No entanto, observações em pacientes com hipertensão são escassas. Pesquisa com pacientes hipertensos [24] mostrou uma correlação significativa entre os níveis plasmáticos de Lp(a) e VOP. Da mesma forma, em estudo com 34 mulheres hipertensas [25], foi demonstrado uma relação significativa entre os níveis de Lp(a) e o índice VOPct. A idade média dos pacientes de ambos os estudos foi de 67 e 66 anos, respectivamente, confirmado o tremendo impacto que a idade tem na rigidez arterial. O estudo que avaliou o papel da Lp(a) nativa na rigidez arterial [22] utilizou método não influenciado pelo tamanho da apo(a), focando na análise da onda de pulso com cálculo do Aix (AUGMENTATION INDEX), juntamente com a VOP. Ambas as variáveis foram diretamente correlacionadas com maior Lp(a) plasmática. Segundo os autores, é importante considerar que a avaliação da rigidez arterial pode variar conforme o local de medição, pois a elasticidade da parede arterial diminui da raiz da aorta para as artérias periféricas. Devido à relevância da Aix para a avaliação da árvore arterial periférica, essas descobertas podem sugerir uma importância maior e específica da Lp(a) 5 para o componente periférico da rigidez arterial. Foi observado, paralelamente, que o Aix foi significativamente pior em pacientes hipertensos tratados com diuréticos ou betabloqueadores – isso pode estar relacionado a um valor de hematócrito alto, que pode ter afetado a viscosidade sanguínea; e aos efeitos vasoconstritores dos betabloqueadores nas artérias periféricas. Os mecanismos que ligam a Lp(a) ao enrijecimento arterial ainda são apenas hipotéticos. Entretanto, com a semelhança estrutural da Lp(a) com o plasminogênio, os depósitos de fibrina da parede vascular podem ser aumentados com a subsequente ativação do TGFα e a estimulação da proliferação de células musculares lisas, fator marcante para a evolução da rigidez arterial. Além disso, o aumento da expressão de moléculas de adesão, como a SELECTINA E, pode desempenhar um papel no enrijecimento arterial, juntamente com as ações pró-inflamatórias que foram demonstradas para Lp(a).
     

    MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS da RIGIDEZ ARTERIAL:

    Clinicamente, a rigidez arterial pode ser manifestada por aumento do pulso arterial e hipertensão sistólica isolada. O enrijecimento aórtico resulta em elevação da pressão arterial (PA) e diminuição da pressão arterial diastólica. Assim, a rigidez arterial está associada com aumento de carga no ventrículo esquerdo e diminuição da pressão de perfusão coronariana, na diástole. Isso pode causar hipertrofia ventricular esquerda, isquemia coronariana e aumento da tensão na parede vascular, o que pode levar ao desprendimento e ruptura de placas ateroscleróticas.

     

    PREVENÇÃO e TERAPÊUTICA:

    A estratégia terapêutica e, principalmente, preventiva da rigidez arterial deve partir da premissa de que se trata de uma doença endotelial, especialmente da íntima nas camadas da túnica íntima, túnica adventícia e túnica média. A substituição de células endoteliais por células da musculatura lisa, assim como a infiltração de leucócitos, mormente de monócitos, causa grandes alterações na elasticidade das artérias. O comprometimento desses tecidos e a perda da elasticidade são muito prejudiciais ao sistema circulatório, portanto devemos considerar todas as possibilidades terapêuticas e preventivas que possam ser adotadas.
     

    A) PEROXIDAÇÃO LIPÍDICA, LDL-ox e INFILTRAÇÃO CELULAR:

    a. A chamada disfunção endotelial foi uma abordagem revolucionária para explicar a fisiopatologia da doença vascular obstrutiva e trombótica. Durante décadas o enfoque mais simplificado indicava apenas a distribuição do perfil lipídico sanguíneo para explicar o mecanismo da doença que provoca a maior mortalidade mundial. Os níveis de colesterol total e LDL eram as ferramentas utilizadas entre as décadas de 1930 e 1980, quando as pesquisas mais acuradas falhavam em obter uma relação simples e direta entre LDL elevado e doença coronariana. A partir da intervenção do cientista Joe McCord, nos EUA, a descoberta de uma variante celular dos macrófagos 6 – as células espumosas – e do papel de certas proteínas adesivas e atraentes na túnica íntima (ICAM-1 e VCAM), tudo mudou. A infiltração celular dos monócitos na íntima e a modificação nesse tecido com invasão também de células da musculatura lisa, ambas mostraram ser um arcabouço crível para o início do processo ateromatoso. Com a intensa atividade do fator NFkB nesse processo e a geração de radicais livres do oxigênio na inflamação, foi identificado um fenômeno hoje conhecido como peroxidação lipídica, que provoca alterações na estrutura da LDL, especialmente nas frações de menor tamanho das partículas. A LDL-ox, sendo um produto estranho (“non self”), estimula forte resposta imune e produção de anticorpos específicos, os quais são usados para dosar os níveis de LDL-ox no sangue. O acúmulo de LDL-ox na túnica íntima é o ponto de partida para ativação de NFkB, que por sua vez aciona os genes controladores da produção das proteínas adesivas ao endotélio – ICAM-1 e VCAM. Ambas atuam desviando os monócitos da circulação, para aderir e se infiltrar no endotélio, onde se diferenciam em macrófagos residentes. Estas células passam a fagocitar todas as partículas de LDLox possíveis, levando a célula a atingir maiores dimensões e tomar uma aparência opaca. Logo surgiu a denominação de “foam cells” (células espumosas), que parece ter sido forjada pelo próprio Joe McCord. Em princípio, chegaram a pensar que haviam descoberto um novo tipo de célula da série branca, mas logo foi constatado que as células espumosas eram, de fato, macrófagos diferenciados.
     
     
    b. Inibidores da peroxidação da LDL: embora seja consenso que os principais redutores da peroxidação lipídica são os antioxidantes lipofílicos, por afinidade química, precisamos considerar também que os antioxidantes hidrofílicos exercem importante papel na homeostase redox sanguínea. As principais fontes de tocoferóis e tocotrienóis são açaí, arroz vermelho, germe de trigo e o urucum – estão disponíveis extratos purificados e padronizados desses fitoterápicos (Tocotrimax®, 7 Tocomax®, Mix de Tocoferóis®, Chronic®, entre outros). Temos, ainda, os antioxidantes anfóteros (ácido lipóico), cuja característica de bissolubilidade oferece proteção dupla, tanto ao citoplasma quanto à membrana.
     
    i. Antioxidantes lipofílicos: a família mais importante desse grupo é a do COMPLEXO “E”, constituída pelos principais isômeros dos tocoferóis e dos tocotrienóis. Diferente do que se adotou no passado, a utilização isolada do isômero alfa-tocoferol não é a forma mais eficiente de obter todos os benefícios desse grupo de antioxidantes, visto que cada isômero () tem suas peculiaridades e afinidades especiais pelas diferentes espécies de lipoperóxidos. Os estudos realizados nas últimas décadas mostram como os tocotrienóis são mais potentes antioxidantes, especialmente em situações mais críticas de estresse oxidativo. Com a disponibilidade atual de fontes confiáveis de produtos da extração desses antioxidantes, podemos optar em utilizar a associação de mix de tocoferóis + mix de tocotrienóis, em dosagens orais que variam entre 60 e 400ui/dia. Importante lembrar que, sendo consideradas vitaminas, esses antioxidantes não são sintetizados no organismo – as principais fontes alimentares são oleíferas, como açaí, palma, também urucum, cevada verde e germe de trigo. Outra família muito importante desse grupo é a dos bioflavonoides, com destaque para quercetina, rutina, fisetina, kaempferol, miricetina e apigenina. Além de antioxidantes, são poderosos anticancerígenos e estabilizadores da estrutura do DNA. Até o momento não foram estabelecidas dosagens padronizadas para esses componentes da dieta, mas é comum encontrarmos na ampla literatura pertinente dosagens orais entre 50 e 200mg/dia. Dependendo da condição nutricional e hábitos alimentares dos pacientes, podem ser necessárias doses superiores, até 500mg/dia – importante comentar que se trata de um grupo cuja toxicidade é desprezível, com margem de segurança muito grande para suplementação por via oral. São encontrados principalmente nas frutas e legumes. Os carotenoides completam esse grupo dos antioxidantes lipofílicos, com ações já muito bem determinadas, que comprovam os seus benefícios à saúde humana, desde sua ação antioxidante e também anticancerígena. Os principais membros são betacaroteno, luteína, licopeno e zeaxantina, entre outros. São obtidos de frutas e legumes, sendo responsáveis pelas colorações do amarelo ao laranja nestes alimentos. Também aqui não vamos encontrar dosagens padronizadas de suplementação, variando entre 20 e 200mg/dia.
     
    ii. Antioxidantes Anfóteros: o representante mais significativo desse grupo é o ácido lipóico (ácido R- Lipóico), antigamente denominado de ácido tiótico. Embora não tenha sido cabalmente demonstrada sua síntese endógena, admite-se que pode ser sintetizado no organismo, em pequenas quantidades. Sua principal característica – a bissolubilidade – permite que seja efetivo no meio aquoso e também no meio lipídico. Por isso tem afinidade pelo tecido 8 nervoso, sendo considerada uma substância dotada de neuroproteção – haja vista a ampla gama de publicações sobre seu uso na neuropatia diabética. A dosagem clássica de suplementação com ácido lipóico é de 600mg/dia, que pode ser dividida em 2 tomadas por via oral.
     
    iii. Antioxidantes Hidrofílicos: neste grupo temos o ascorbato como mais relevante membro. Os estudos publicados com a vitamina C superam numericamente todos os demais antioxidantes, mister de sua grande importância biológica, não só como antioxidante, mas também como cofator para diversas reações bioquímicas no organismo. A potência antioxidante da vitamina C, possuindo dois cátions H+ redutores, é esplêndida. Entretanto, sua fácil reatividade exige que formulemos o ascorbato num complexo com bioflavonoides, denominado COMPLEXO C. Os flavonoides encontrados normalmente com o ácido ascórbico em frutas cítricas são quercetina e hesperidina, eles têm o papel de proteger a vitamina e evitar sua reação com substratos oxidáveis, preservando sua potência. Recomenda-se utilizar uma proporção de 80:20 de ácido ascórbico para os flavonoides, em dosagens orais diárias que podem variar entre 100 e 1000mg – conforme os níveis de estresse oxidativo verificados pelos métodos de análise laboratorial, podem ser necessárias dosagens superiores. Vitaminas do complexo B também são antioxidantes hidrofílicos, destacandose a tiamina, riboflavina e niacinamida. As dosagens utilizadas para efeitos antioxidantes são superiores as dosagens nutricionais contidas na F&NB (FOOD AND NUTRITION BOARD), na faixa entre 20 e 100mg/dia. Alilcisteína: outro potente inibidor da peroxidação lipídica, encontrado no extrato do alho negro. Por ocasião da época medieval, possivelmente na Espanha, habitantes deixaram cair cabeças de alho em partes internas dos fogões, e, após serem encontradas, apresentavam uma coloração escura e um sabor privilegiado, donde passou a ser usado na culinária local. Estudos científicos identificaram elevados teores de alilcisteína, um poderoso precursor do L-Glutatião – esse considerado o mais importante antioxidante citoplasmático. Esse tripeptídeo – L-Glutatião – é formado endogenamente por três aminoácidos, a L-Glicina, L-Glutamina e L-Cisteína, sendo o substrato específico para a família das enzimas Glutatião Peroxidase (GPx). Portanto, estimular a função da família GPx é, indubitavelmente, prevenir a peroxidação.
     

    B) ÁCIDOS GRAXOS n-3:

    a. Conforme estudos publicados [15-18], a relação entre os lipídios da família n-3 é inversamente proporcional aos valores de VOP, ou seja, os níveis de ômega 3 mais elevados reduzem a tendência de rigidez arterial. Além disso, apresentam marcante ação antinflamatória vascular, especialmente os ácidos eicosapentanóico (EPA) e docosahexanóico (DHA). Estudo como o de Sanders & cols [18], realizado com 174 voluntários acompanhados por quase 20 anos, surpreenderam ao evidenciar que os níveis plasmáticos de EPA e DHA são pouco influenciados pela ingestão de ácido - 9 linoleico das fontes vegetais, mas sim pela ingestão do DHA pré-formado (óleo de peixe). Isso nos traz subsídios para a escolha da forma mais efetiva de suplementação, preferencialmente óleo de peixe de boa qualidade e procedência, submetidos à destilação molecular, sem aplicação de calor, a fim de preservar a estrutura dos ácidos graxos n-3 e os resguardar contra a auto oxidação. Um estudo realizado [19] por Nishizawa & cols mostrou uma relação inversa entre VOPbt e os níveis de EPA, resultado consistente com estudos anteriores sobre os mecanismos de ação da família n-3 (antinflamatórios). Diferença no perfil inflamatório entre as séries n-6 e n-3 dos ácidos graxos ômega:
     
     
    A série de prostaglandinas originárias de ômega 6 (PG2) se caracteriza por atividade inflamatória intensa (PGE2) e agregação plaquetária TXA2). Do outro lado, a série proveniente de ômega 3 (PG3) tem baixa atividade inflamatória (PGE3), assim como baixa atividade de agregação plaquetária (TXA3). Além disso, a atividade trombótica da prostaciclina PGI3 é muito mais eficiente do que a similar PGI2 da série n-6.
     
    b. Os níveis de suplementação com ácidos graxos n-3 devem ser proporcionais ao volume total de ingestão de gorduras na dieta. A relação plasmática entre os ácidos graxos n-6 e os n-3, conforme pesquisas, não deveria exceder 5. Dados antropométricos revelam que essa razão está em superior a 15, na dieta moderna, o que não é considerado adequado para a prevenção de DCV. Portanto, cientes de que temos um padrão mundial de predominância de ácidos graxos n-6, é de se esperar uma elevada incidência de doenças inflamatórias, que atinge facilmente o tecido adiposo. A definição dos níveis necessários de n-3 para recompor um índice mais saudável no organismo deve incluir uma avaliação nutricional, sobre a dieta de cada paciente. Níveis de n-3 com 10g/dia ou mais podem ser necessários para equilibrar a dieta lipídica, em relação à carga de n-6.
     
     

    C) INIBIDORES DA ELASTASE:

    Sendo a redução na razão elastase/colágeno um dos principais fenômenos que contribuem para a rigidez arterial, a busca por componentes que possam privilegiar a disponibilidade de elastase é primordial para a prevenção dessa condição que prejudica o sistema vascular. São conhecidos diversos agentes antielastásicos, porém poucos estão disponíveis para uso terapêutico. SHSPI extraído da Scolopendra hainanum (centopeia gigante); AVKTI extraído de Araneus ventricosus (aranha do diabo); GAUMERIN extraído de Hirudo nipponia (sanguessuga), estão entre os anti-elastásicos que despertam interesse médico, porém ainda não estão disponíveis para uso medicinal – todos de origem animal. Extraído de cianobactérias marinhas, a molassamida é um dos mais potentes anti-elastásicos até agora pesquisados, porém ainda não disponível para uso na clínica para prevenção da rigidez arterial. Entre os anti-elastásicos originários de plantas, destacamos o IXORAPEPTÍDEO II, peptídeo isolado do extrato da Ixora coccínea (gerânio). IXORAPEPTÍDEO II tem capacidade de inibir a liberação de elastase no ensaio antinflamatório, mostrando possível atividade anti-inflamatória em neutrófilos. Ele é 73 vezes mais ativo do que o fluoreto de fenilmetilsulfonil (PMSF), um composto de referência para atividade anti-elastásica. Um composto extraído do Hibiscus é o ROSELTIDEO RT1, da família Malvaceae. Pesquisa [21] com análise proteômica revelou oito peptídeos ricos em cisteína chamados ROSELTÍDEOS (rT1-rT8). O mais abundante entre eles, ROSELTIDE rT1, foi considerado um inibidor da elastase. No total, 85% dos seus aminoácidos são hidrofóbicos – ele é capaz de inibir a elastase neutrofílica humana de maneira 11 dose-dependente, apresentando um valor IC50 de 0,47μM.
     

    D) REDUÇÃO DA LIPOPROTEÍNA(a):

    De longo tempo se conhece os papéis negativos do aumento da Lipo(a) no sangue, reduzindo a fibrinólise e facilitando a agregação de plaquetas e lipídios na aterogênese. Vários cientistas – entre eles o emérito Linus Pauling – se dedicaram a esse tema, embora até o momento não se tenha obtido um tratamento protocolar para esse tipo de dislipidemia, que apresenta forte característica genética hereditária. Nos estudos de Pauling foi confirmado um aspecto que antes já havia sido pautado por outros cientistas, a afinidade de sítios na estrutura da Lipo(a) pelo aminoácido L-Lisina. A administração do aminoácido em doses diárias de 3g, juntamente com vitamina C, foi recomendada ao fim dessas pesquisas, pouco antes do falecimento do notável cientista laureado com dois prêmios da academia Nobel. Embora esse tema careça de estudos clínicos com amostragem mais significativa, relatos como de Dalessandri [26] atestam a eficiência do método de Pauling, além da total segurança. Temos, ainda, publicações que indicam o uso de niacina para redução dos níveis elevados de lipo(a) [27]. São necessárias doses mais altas da vitamina B3 do que as determinadas para uso nutricional (> 500mg/dia). Não se pode excluir desse tratamento os efeitos colaterais ocasionados por vasodilatação periférica transitória – o fenômeno é conhecido internacionalmente como “Niacin Flush”, e não traz nenhum dano perene, apenas os incômodos como vermelhidão na face, ouvidos e olhos, além de sensação de calor na face.
     

    CONCLUSÕES:

    A rigidez arterial é um condição plenamente atrelada ao envelhecimento, tornando-se importante a partir dos 60 anos, com sintomas mais evidentes por volta dos 70 anos em diante. O diagnóstico auxiliado por medida de VOP (velocidade de onda de pulso), índice de aumento (Aix) e da pressão aórtica central, que podem ser obtidos de forma não invasiva. A perda da elasticidade das artérias torna-se um problema para o sistema cardiovascular, levando a tendência à hipertensão e ao aumento do risco de acidentes vasculares, cujos resultados podem ser trombóticos ou não. Conforme dispõe uma ampla literatura sobre o tema, trata-se de um patologia cujo principal enfoque deve ser preventivo, posto que a reversão dos tecidos endoteliais alterados, com infiltração celular monocitária e por células da musculatura lisa, é de difícil realização. Portanto, buscar os processos de detenção do processo evolutivo de enrijecimento arterial é de fundamental importância para a longevidade e, eventualmente, a regeneração parcial da disfunção endotelial, cujo princípio fisiopatológico é a inflamação. Assim, a adoção de dietas mais saudáveis, com restabelecimento do equilíbrio entre ácidos graxos ômega 6 e ômega 3 (relação abaixo de 5) e menor influência inflamatória, com a introdução de mais alimentos antioxidantes de todos os tipos – lipofílicos, 12 hidrofílicos e anfóteros – e, se necessário, a suplementação com esses nutrientes; assim como a correção das dislipidemias, com ênfase na redução da lipo(a) e também a busca do equilíbrio elastina/colágeno, com a possibilidade do uso de anti-elastásicos naturais, todo esse conjunto de medidas, pode contribuir significativamente para a redução e retardamento do processo de enrijecimento arterial.
     

    Referências:

    1. Arterial stiffness: Pathophysiological and genetic aspects. Rafael de Oliveira Alvim, Paulo Caleb Junior Lima Santos, Luiz Aparecido Bortolotto, José Geraldo Mill, Alexandre da Costa Pereira. Int J Cardiovasc Sci. 2017, 30(5):433-441.
    2. The relationship of age with regional aortic stiffness and diameter. Hickson SS, Butlin M, Graves M, Taviani V, Avolio AP, McEniery CM, et al. JACC Cardiovasc Imaging, 2010; 3(12):1247-55.
    3. Aging enhances autonomic support of blood pressure in women. Barnes JN, Hart EC, Curry TB, Nicholson WT, Eisenach JH, Wallin BG & cols. Hypertension, 2014, 63(2):303-8.
    4. Altered inflammatory response is associated with an impaired autonomic input to the bone marrow in the spontaneously hypertensive rat. Zubcevic J, Jun JY, Kim S, Perez PD, Afzal A, Shan Z, et al. Hypertension, 2014, 63(3):542-50.
    5. Arterial stiffness preceding diabetes: A longitudinal study. Mengyi Zheng, Xinyuan Zhang, Shuohua Chen, Yongjian Song, Quanhui Zhao, Xiang Gao and Shouling Wu. Circulation Research, 2020, 127:1491–1498.
    6. Assessment of hydration, nutritional status and srterial stiffness in hypertensive chronic kidney disease patients. Josipa Radić, Ela Kolak, Marijana Vučković, Andrea Gelemanović, Hana Đogaš, Dora Bučan Nenadić, Mislav Radić. Nutrients, 2023 Apr, 15(9):2045.
    7. Association of fluid overload with kidney disease progression in advanced CKD: A prospective cohort study. Tsai Y.-C., Tsai J.-C., Chen S.-C., Chiu Y.-W., Hwang S.-J., Hung C.-C., Chen T.-H., Kuo M.-C., Chen H.-C. Am J Kidney Diseases, 2014, 63:68–75.
    8. Severe hyperglycemia: A determinant factor for hypofiltration in alloxan diabetic rats. Di Loreto V., Moreno H.S., Puche R.C., Locatto M.E. Acta Diabetol. 2004;41:56–62.
    9. Fluid overload as a therapeutic target for the preservative management of chronic kidney disease. Palmer B, Clegg DJ. Curr Opin Nephrol Hypertens, 2020, 29:22–28.
    10. Brachial-ankle pulse wave velocity and rate of renal function decline and mortality in chronic kidney disease. Chen SC, Chang JM, Liu WC, Tsai YC, Tsai JC, Hsu PC, Lin TH, Lin MY, Su HM, Hwang SJ & cols. Clin J Am Soc Nefro 2011, 6:724–732.
    11. Extracellular fluid excess is significantly associated with coronary artery calcification in patients with chronic kidney disease. Park S, Lee CJ, Jhee JH, Yun HR, Kim H, Jung SY, Kee YK, Yoon CY, Park JT, Kim HC & cols. J Am Heart Assoc, 2018, 7:e008935.
    12. Chronic kidney disease and mortality risk. Tonelli M., Wiebe N., Culleton B., House A., Rabbat C., Fok M., McAlister F., Garg A.X. J Am Soc Nephrol, 2006, 17:2034–2047.
    13. Epidemiology, contributors to, and clinical trials of mortality risk in chronic kidney failure. Ortiz A, Covic A, Fliser D, Fouque D, Goldsmith D, Kanbay M, Mallamaci F, Massy ZA, Rossignol P, Vanholder R & cols. Lancet, 2014, 383:1831–1843.
    14. Effects of volume overload and current techniques for the assessment of fluid status in patients with renal disease. Ekinci C, Karabork M, Siriopol D, Dincer N, Covic A, Kanbay M. Blood Purif, 2018, 46:34–47.
    15. Plasma fatty acid composition as a predictor of arterial stiffness and mortality. Simon G Anderson 1, Thomas A B Sanders, J Kennedy Cruickshank. Hypertension, 2009 May, 53(5):839-45.
    16. Compared with dietary monounsaturated and saturated fat, polyunsaturated fat protects African green monkeys from coronary artery atherosclerosis. Rudel LL, Parks JS, Sawyer JK. Arterioscler Thromb Vasc Biol. 1995, 15: 2101–2110. 13
    17. Atherosclerosis and omega-3 fatty acids in the populations of a fishing village and a farming village in Japan. Yamada T, Strong JP, Ishii T, Ueno T, Koyama M, Wagayama H, Shimizu A, Sakai T, Malcom GT, Guzman MA. Atherosclerosis. 2000, 153: 469–481.
    18. Effect of varying the ratio of n-6 to n-3 fatty acids by increasing the dietary intake of alphalinolenic acid, eicosapentaenoic and docosahexaenoic acid, or both on fibrinogen and clotting factors VII and XII in persons aged 45–70 y: the OPTILIP Study. Sanders TA, Lewis F, Slaughter S, Griffin BA, Griffin M, Davies I, Millward DJ, Cooper JA, Miller GJ. Am J Clin Nutr, 2006, 84: 513–522.
    19. The relationship between tissue RBC n-3 fatty acids and pulse wave velocity. Nishizawa H, Hamazaki K, Hamazaki T, Fujioka S, Sawazaki S. In Vivo, 2006, 20: 307–310.
    20. Peptide human neutrophil elastase inhibitors from natural sources: An overview. Lorenza Marinaccio, Azzurra Stefanucci, Giuseppe Scioli, Alice Della Valle, Gokhan Zengin, Angelo Cichelli and Adriano Mollica. Int Journal Mol Sci 2022, 23, 2924.
    21. Identification and characterization of Roseltide, a knottin-type neutrophil elastase inhibitor derived from Hibiscus sabdariffa. Loo S, Kam A, Xiao T, Nguyen GKT, Liu, CF, Tam, JP. Sciences Rep 2016, 6, 39401.
    22. Plasma Lipoprotein(a) levels as determinants of arterial stiffening in hypertension. Gabriele Brosolo, Andrea Da Porto, Luca Bulfone, Antonio Vacca, Nicole Bertin, Gianluca Colussi, Alessandro Cavarape, Leonardo A. Sechi, and Cristiana Catena. Biomedicines, 2021 Nov, 9(11): 1510.
    23. Lipoprotein(a) as a determinant of arterial stiffness in elderly patients with type 2 diabetes mellitus. Wakabayashi I., Masuda H. Clin. Chim. Acta. 2006;373:127–131.
    24. Association of serum oxidized lipoprotein(a) concentration with coronary artery disease: Potential role of oxidized lipoprotein(a) in the vascular wall. Morishita R, Ishii J, Kusumi Y, Yamada S, Komai N, Ohishi M, Nomura M, Hishida H, Niihashi M, Mitsumata M. J. Atheroscl. Thromb. 2009;16:410–418.
    25. Oxidized lipoprotein(a) and cardio-ankle vascular index (CAVI) in hypertensive subjects. Kotani K., Yamada S., Yamada T., Kario K., Taniguchi N. Heart Vessels, 2013, 28:461–466.
    26. Reduction of lipoprotein(a) in postmenopausal women. K M Dalessandri. Arch Intern Med, 2001 Mar, 161(5):772-3.
    27. Niacin treatment effective for reducing Lipo(a) levels. Tatiana Echeverry, Jamal A. Anthony, and Robert D. Fishberg. J Am Coll Cardiol. 2023 Mar, 81 (8_Supplement) 331.